sábado, 17 de dezembro de 2011

PONTAPÉ

"O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre."

Adélia Prado.


Na minha adolescência, escrever foi fundamental para que eu entendesse o turbilhão de sentimentos embutidos em hormônios que eu até então desconhecia. Foi nessa época que tive a primeira percepção de que cada escritor construía com suas palavras, suas concordâncias e seus pormenores, o seu próprio mundo. Lê-los era como reviver os filmes da minha infância que me faziam ver mundos paralelos, personagens mágicos e acontecimentos fantásticos. A diferença é que, naquele momento, essas realidades começaram a se traduzir em palavras. Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca (meu preferido), me apresentaram nuances infinitas para relacionamentos amorosos, despedidas, ódio, assassinatos, incompreensões e desencontros. Através dos "olhos" desses artistas comecei a moldar o meu próprio mundo fantástico.

A minha busca então partiu para a construção dessa minha visão particular, do meu universo paralelo. Para mostrar a minha própria ótica, escrevi meu primeiro texto e percebi a minha dificuldade de chegar em duas ou três laudas de enredo. Era a minha veia de redação publicitária, sucinta, fragmentada e puxada a uma expressividade excessiva já se fazendo realidade - ponto que fui descobrir só mais tarde, prestes a me inscrever para o vestibular para publicidade. Em 2003, os blogs no Brasil eram uma febre. Criei três deles, um com um grupo de amigos de colégio e outros dois pessoais. Um mundo paralelo só não era suficiente porque em mim muitos alter-egos começaram a querer voz, ansiavam por se mostrarem nas palavras.

Quando a adolescência passou, já por volta dos 18 anos de idade, fui viver esses mundos paralelos de fato e escrever ficou totalmente em segundo plano, adormecido em algum lugar em mim. A válvula de escape então se direcionou para a fotografia, que foi meu hobby de faculdade e hoje em dia é uma das minhas grandes paixões.

Mas como nada é insubstituível porque tudo que existe teima em ter aspectos únicos, por mais imperceptíveis que sejam, percebi que quanto mais multiplicidade de expressões eu detivesse, mais completo seria meu universo paralelo. É impossível abandonar a escrita pela fotografia pois ambas são expressões únicas desse universo. E agora quero todas elas, em grandes dosagens, transbordando em minha vida.

Dado o pontapé inicial para essa multiplicidade de expressões, aqui é o lugar de deixar livre a ótica, o assunto, o meio e qualquer outra categoria. Afinal, tudo é digno de comentário quando não passa desapercebido ao nosso olhar.

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